domingo, 5 de maio de 2013

Some feet from the ground 9 months ago.

As lágrimas queriam descer do seu rosto, ela não deixou. Aguentou por mais um tempo, pra deixá-las cair quando ninguém mais estivesse olhando. Ela conseguiu levantar. Foi até o banheiro, lavou o rosto, tomou um banho. Sentiu a água percorrer seu corpo lentamente e em uma temperatura amena, do jeito dos últimos dias. Desligou o chuveiro. Olhou pela última vez naquele espelho, viu pela última vez a pessoa que estava naquele espelho. E ela não sabia quando ia a ver de novo. Colocou a roupa que havia separado, guardou o pijama dentro da mala. Não tinha mais volta, a mala foi fechada. Ou seja, tinha acabado. Ela carregou as malas para o andar de baixo e tentou não fazer nenhum barulho. Foi na cozinha, o café já estava pronto. Pegou uma xícara cheia dele. Era 5h30 da manhã. Ela foi até a varanda e se permitiu olhar o sol nascendo naquele lugar pela última vez. E doeu e aliviou na mesma hora. Era como se ela só estivesse saindo pra mais um dia de explorar o lugar, e não de voltar pra realidade. Ela se sentia como Cinderela. E meia noite tinha acabado de chegar. Parecia que um mês tinha passado em um dia. Estranho como aquela coisa de quando você está fazendo algo que gosta o tempo passa rápido. Caso contrário, ele demora mais do que deveria. Droga, quase esqueceu do Dramin. Ficou na varanda só ouvindo os aviões, o barulho da rua, dos pássaros e viu um esquilo pela última vez. Criaturas adoráveis que ela gostava de ter sempre por perto dela. Acho que todos estão prontos. Uma última olhada na vista da casa, uma última olhada na rua e naquela casa engraçada do carro bonito, uma última olhada na linha do trem. Inspira, expira. Repita o processo. Tá, para de falar, o cérebro já consegue fazer isso sozinho. Conversas alheias surguem no carro, ela está distraída demais para ouvir qualquer coisa. Ela só conseguia olhar tudo ficando pra trás dela, cada paisagem, casa, rua, rosto apressado. Táxis, muitos deles. Tinha chegado no aeroporto. Já despachou as malas? Olhou o táxi amarelo mais uma vez e guardou na caixa de lembranças em um lugar na sua cabeça. Um abraço de despedida, lágrimas desesperadas. Não, ela ia conseguir aguentar mais um pouco. Detector de metal. Tira a bota, tira o anél, tira o notebook da bolsa, não tira o olho do celular. Pegou tudo, foi para o portão. Mesma língua que ela? Tá, ela estava no lugar certo. Sentou. Colocou o fone de ouvido. Deu uma brecha e deixou as lágrimas cairem. Tudo estava indo tão depressa. Ela não queria ir. Ela não queria voltar. Era pedir muito? A realidade era chata. Entediante. Fora do que ela desejava pra si mesma. Ela deveria ficar ali. Esse era seu destino, ela sabia, agora, ela tinha certeza.
Algo chamou a sua atenção. Não era a única chorando. Tinha um cara, na casa dos 20 anos, que apresentava os mesmos olhos inchados, lágrimas e afeição tristonha. Levantou, foi no banheiro, comprou algo pra comer. Não melhorava. E ela não deixava de perceber e pensar: estaria deixando um amor pra trás? Também não queria sair da cidade dos sonhos? Aconteceu algo inesperado e ele estaria voltando por isso? De qualquer forma, aquilo a confortou. Não gostava de ver pessoas chorando, nem mesmo desconhecidos. Só que ali, ela não se sentiu sozinha. Ela se sentiu bem por estar se sentindo mal. Ela voltaria para sua família, seus amigos, sua vida, sua cama, seu quarto. Só que de alguma forma, aquilo não parecia ser suficiente depois de tudo que ela havia presenciado ali. Ela tinha algo a mais que lá ela não conseguia ter. Ela mesma. Todo o seu ser. Ela era seus sonhos, esperanças, sorrisos e felicidade. 
Chamou o número do vôo. Hora de entrar e ficar num avião 9 longas horas. E ela amava a ideia. 9 horas sem nenhum tipo de comunicação com o mundo, acima das nuvens, acima do oceano, vendo um pouco da imensidão de um ponto de vista que nunca havia tido. Ela veria o crepúsculo. Enxergaria as cidades e suas milhares de luzes. Tinha filmes legais passando. O celular tinha bateria. Tinha tomado o Dramin, logo estaria dormindo como pedra.
Hora de levantar vôo. Respirou fundo e sussurrou pra si mesma "eu vou voltar. Vou voltar e pra ficar".








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