domingo, 28 de abril de 2013

Night drive.

Era quase meia noite, todos em casa já estavam dormindo. Menos eu. Não conseguia descansar a cabeça. Tive um dia ruim, uma semana ruim, uma sensação ruim, um sentimento de cansaço incrivelmente grande, como se eu estivesse no peso de uma pena e qualquer outra força fosse mais forte que eu. Quando alguém tocou a campainha. Eu estava de pijama, cabelo bagunçado, cara sonolenta apesar da falta do sono. Fui rápido pra não ter o perigo de acordar ninguém, quase cai. Abri a porta e me deparei com ele, também com cara sonolenta, pijama e chinelo, com celular e chaves do carro na mão. E eu já sabia do que se tratava: uma aventura no meio da noite. E era exatamente o que eu queria e precisava. Assim, do nada, ele já sabia tudo sobre mim. Uma vírgula num lugar diferente na frase, um ponto de exclamação faltando ou a falta de ânimo na minha voz ele sabia de cor e salteado como eram e sabia que aquela era a hora dele agir. Eu apenas sorri, ele sorriu de volta. Fechei a porta com cuidado.
- Preciso voltar antes deles acordarem.
- Temos pelo menos 6 horas até lá.
Corremos para o carro. De repente, ele joga as chaves pra mim.
- Hora de você dirigir.
- Mas eu não sei...
- Eu tô do seu lado, eu te ensino. 
Aceitei o desafio. Talvez eu poderia bater em alguns postes, cruzar algumas esquinas e frear em cima de um sinal vermelho. Mas tudo bem, tem um momento na vida que a gente precisa desafiar nossos medos e inseguranças sem um aviso prévio, vai que assim funciona...
- Certo, vamos começar então. Você tá precisando distrair essa cabeça.
E assim foi. Algumas dicas aqui e ali, algumas brecadas fortes, algumas risadas, alguns olhares. E muitas palavras. Muito espaço para eu conseguir ser eu mesma e conseguir ficar realmente melhor e esquecer da semana ruim.
- Ok, tem um Dunkin Donuts na próxima rua. Precisamos de uma caixa deles e dois cafés. 
E fomos lá, pegamos os donuts e os cafés e ele me deu as direções. E conforme iamos avançando eu sabia onde aquilo ia dar...
- Praia?
- Ahá, então seu senso de direção está melhorando?
Realmente ele havia melhorado. Ainda bem. Nunca vi alguém que esquece caminhos tão rápidos como eu. Mas ali não, ali era diferente. Aquele lugar tinha um significado. 
Chegamos e a visão que tinhamos era algo parecido com uma pintura. A lua estava cheia, iluminava tanto a noite. O som do mar era brando. A brisa era gelada. Ele tirou um cobertor do porta mala, nos sentamos lado a lado em cima do capô do carro e nos cobrimos. Comemos os donuts e tomamos o café. Eu apoei em seu ombro, ele beijou minha testa, meu nariz e depois meus lábios, da maneira mais calma possível. E ficamos abraçados por um tempo olhando a lua em silêncio. E ele não ousou quebrar, porque sabia que era aquilo que eu queria, e que quando eu estivesse pronta iria lhe contar o porque do meu desânimo. O que não demorou muito. Eu conseguia me abrir com ele de um jeito que nunca havia conseguido me abrir antes. Ele escutava, ele não julgava, ele me confortava. Com palavras, com silêncio, com um abraço. Mas ele sempre me confortava. Não importava a gravidade da situação, desde as mais complexas até as mais idiotas. E era tão bom saber que existia alguém disposto a sair no meio da madrugada pra me fazer sentir melhor, pra me tirar de mim mesma um pouco. Era bom sentir aquela sensação de casa quando eu estava com ele, mesmo estando tão longe de casa, eu me sentia em casa, como se eu pertencesse àquele momento. Como se eu pertencesse ao lado dele e ele ao meu. E a lua, o mar e aquela noite fria da brisa do mar eram a prova de aquilo eu podia chamar de amor.  















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