segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

The distance.

Papéis amassados, garrafas de água vazias, fotos espalhadas, olhos cansados. Ela era nova em tudo isso, nessa coisa de mudança. Pra ela, sempre tão invocada com arrumação, estava em meio de uma bagunça imensa que não conseguia arrumar logo, e isso a desesperava.
Tudo estava uma verdadeira bagunça. Não daqueles que você leva um dia, separa as coisas em caixas e as rotula e pronto, arrumado. Mas daquelas bagunças que talvez o tempo arrumasse. Ou talvez se ela pegasse um avião de volta, as coisas voltassem ao normal. Mas ela não podia. Tudo o que ela tinha era a certeza de que não podia. Ele ficou lá. Era só o que a cabeça bagunçada havia arrumado. Que ela pegou um avião e voltou para a vida pacata, e ele ficou lá, fazendo sabe-se-lá-o-que.
Fazia uma semana que tinha chegado e já sentia falta dele desesperadamente, como se fosse mais dificil de
respirar, como se ela tivesse um peso extra dentro dela: o da saudade.
Ela desarrumava as malas e parecem que a organização se tornava como uma espécie de veneno espalhado no ar. No meio da perfeição da limpeza de sempre, pela primeira vez, ela queria aquela mala desarrumada. Como se ela não tivesse hora pra voltar. Como se não houvesse preocupações em arrumá-la, pesa-la e nem nada disso. Apenas uma mala cheia de coisas para o dia-a-dia. Uma mala sem compromisso. Apenas jogada num canto do quarto, sem previsão pra ser arrumada.
O celular de repente começa a vibrar em meio as roupas jogadas em cima da cama e papéis espalhados pela escrivaninha. Ela segue o barulho e descobre que ele estava embaixo do seu travesseiro, ao lado da primeira fotos dos dois. O corpo derrete, o coração acelera, o sorriso brota no sorriso em meio de olhos embaçados pelas lágrimas dispostas a cair freneticamente a partir do momento que ouvisse a voz dele.
"Hey" foi a unica palavra necessária pra ela respirar fundo e retribuir um "hey, I miss you" e se afogar em meio a lágrimas. Ele tentava consola-la de todas as maneiras. Em vão. Foi quando ele começou a contar sobre a semana dele, as coisas boas e ruins, aquele amigo bebado havia feito uma cena num bar numa quarta qualquer enquanto ele ficava lá cuidando dele, na sexta ele andou de trem até o centro onde resolveu sentar no Central Park o dia todo, e hoje, no domingo, ele resolveu ligar pra dizer o quanto nada daquilo fazia sentido sem ela. Como se uma parte de todo o brilho tivesse ido embora. Acho que só ele tinha esse poder sobre ela... controlava suas lágrimas, aconchegava o coração, fazia ela sorrir de um jeito todo diferente.
Meia hora se passou e ele precisava desligar, ele já tinha sido forte demais, mais um minuto e ele desabaria. Mas ela já estava calma, motivo suficiente pra ele aguentar firme. Só que todos quebramos em algum momento, não somos feito de aço. A despedida é sempre a pior parte. Por quanto tempo ainda passariam por isso? Merda. As coisas poderiam ser bem mais simples. Porque do outro lado do mundo as coisas eram mais simples? Rotina? Realidade? Talvez sim, talvez não. "I love you, babe". "Love you too, angel". E desligaram sem nem pensar, se pensassem, não desligariam nunca.
Três, quatro da manhã e nada dela conseguir dormir. Droga, tinha um seminário no outro dia. Uma hora da manhã pra ele e o frio lá fora era intenso, mas ainda tinha estrelas no céu. Ele as encarou demoradamente. Ela levantou, foi pegar uma água gelada e parou na sacada olhando para as estrelas também. Ela sorriu. Ele também. A maior promessa dos dois é que por mais que o Atlântico e mais alguns paises os separassem, eles sempre teriam ao céu, as estrelas, ao sol e a lua. Mas as estrelas eram mais especiais. Ele era apaixonado por astrologia. Ela achava as estrelas algo mágico e cheio de esperança.
De repente, uma mensagem: "I hear you crying and I know what it's like to be alone. You're scared. I'm not there". Ela responde: "And just so you know, the distance is what's killing me". The distance, Hot Chelle Rae. Ele apresentou essa banda a ela, ela não para de ouvir mais. É incrível a conexão que os dois tinham. Quando ele recebeu a mensagem, apenas discou o número dela, sem pensar em contas do celular ou no horário e os compromissos que se fodam. Eles só precisavam um do outro.
Os dois conversaram por exatas 2 horas, até que ela foi surpreendida com o despertador. Como o tempo passara tão rápido quando os dois estavam "juntos"? Era algum tipo de complô contra os dois? Pelo menos o tempo poderia ser gentil. Mas nada vida nada vem fácil, e nem sempre as coisas são justas. "Thanks for being strong for me, but you know.. you can break, it's ok. You're a guy, not a stone" e ele realmente começou a chorar. Isso já não a assustava mais. Apenas o fato de que ela não podia abraça-lo e fazer cafuné em seus cabelos enrolados pra ele se sentir melhor. Mas ela apenas dizia num tom calmo "it's gonna be ok". Eles tinham essa mania de achar muito das coisas. Eles tinham a mania de olhar o lado positivo de tudo, de ver um "vai ficar tudo bem" em tudo. Eles herdaram isso um do outro.
Voltando pra realidade. Eles desligam o celular. Ela volta pro quarto que está mais bagunçado do que nunca e respira fundo pra começar a organização. As fotos, ela deixou lá, expostas. Se segurando nas lembranças poderia amenizar a dor, certo? Errado. As vezes piorava. Como ela conseguiria ficar os próximos quatro meses daquele jeito? Ele deitou na cama e se sentiu inspirado o suficiente pra criar vários capítulos para sua história. Só que teve que parar, detalhar ela não ia ajudar naquele momento. Como ele conseguiria aguentar quatro meses? Parecia tão mais fácil com os dois falando isso de frente para o por do sol na praia. Quando estavam juntos o mundo parecia menor, mais bonito, menos complicação, mais amor.
Ela adormeceu em cima de desenhos que fez a madrugada toda. Acordou e foi direto pro calendário. Ele passou a noite em claro, e de manhã fez o mesmo. Trocaram mensagens. "Ready?" "Always am". Apagaram um dia do calendário. Um dia a menos para a se verem, um a mais sem saudade.
E assim iriam fazer pelos próximos 4 meses. Porque não importava os fuso horarios, as limpezas, o gosto diferente em roupas e em músicas, ou aquele quadro assustador que havia no quarto dele. A unica coisa que importava era que vários números fossem apagados do calendário. Afinal, a distância para eles era apenas isso... Números.








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